quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


A notícia chegou, fera e contundente
A espada flamejante cindira a noite
E os arcanjos precipitaram-se sobre a terra.
Mas era tarde demais, a juventude agonizava
Vítima inconsciente da incúria e da estupidez.
E o Brasil chorou!
- Primeiro incrédulo, depois dormente,
Por fim, inconformado.
E a madrugada, ao sul, ficou vermelha
E a tristeza arrastou-se por ela
Até que o dia despontou, vergado à dor.



Aos jovens que a morte, precocemente, levou
e às suas famílias destroçadas
e votadas à eterna amargura da perda.



Eugénio de Sá,
em nome dos muitos portugueses
que choram com os seus irmãos brasileiros.

29.Janeiro.2013


domingo, 27 de janeiro de 2013

PASSARINHO POETA - Eugénio de Sá; PASSARINHO MENSAGEIRO - Dioni Fernandes & MENSAGEM DE PASSARINHO - António Barroso (Tiago)

Passarinho poeta
Eugénio de Sá

O Ledo passarinho que esvoaça
Junto à minha janela pla manhã

Parece querer dizer-me em seu afã
Que é diferente aos demais da sua raça

Quem sabe se é alguém que eu conheci
E que voltou à vida convertido
Alguém que admiro e me é querido
Talvez algum poeta dos que eu li…

E que no coração inda transporte
Todo o lirismo que o faz gorgear
Servindo-se do sol como suporte

Parece que um poema quer trautear
Saltitando no seu minúsculo porte
Em busca de sustento a debicar

Sintra – Janeiro – 2013
Formatação
AugustaBS -Brasil
Sintra – Janeiro - 2013
Formatação
AugustaBS -Brasil 




Este passarinho de bela raça,
Que à tua janela gorjeia,

Te acorda bicando a vidraça
E com lindo canto te homenageia,

É o amor que bate ao teu coração,
Pedindo guarida, quente ninho,
Num impulso sublime de grande paixão
De alguém que te era muito querido.

Traz no coração, d'outras vidas, a saudade
Dos momentos vividos com felicidade
De ter os teus carinhos, simplesmente.

Tece um poema em seus gorjeios, contente,
Que faz efeito no teu ser que, sem falsidade,
Abre o coração e deixa plantar, de novo, a semente





Para o meu querido amigo e nobre poeta, que muito admiro, o meu carinho.
Di Virtuoso.

Arte e Formatação:
AugustaBS




Mensagem de passarinho

António Barroso (Tiago)

- Sou eu, sou eu – gritou o passarinho,
Aquele que tu leste, inda criança,
Camões, com seus sonetos de esperança,
Pessoa, olhando as pedras do caminho.

Florbela, triste e só, sem um carinho,
Bocage, improvisando, p’las vielas,
Sou quem enalteceu, em frases belas,
A glória de Albuquerque e de Mouzinho.

Mas é, p’ra ti, o meu cantar de agora
E, no meu gorgear, vê tu que aflora
Uma mensagem simples, bem discreta,

Porque, mais tarde, irei falar de ti
Dizendo, aos vindouros, que já vivi
Certa manhã, cantando a um poeta.

Lagos – Portugal  (23/05/2013)



OS PARDAIS DE CONQUISTA


Pela manhã já bem cedinho, a bruma
Nem se desfez…cidade adormecida
E o alarido dos pardais convida
A cada qual seu labor assuma.

Aos poucos deixam a noturnal guarida
E cada bando em revoada ruma
Para os seveiros dos quintais. Nenhuma
Hora do dia lhes será perdida.

E quando se recolhe à tardinha
No aconchego do galho em que se aninha
A pardoca, feliz, com seu pardal,

Ensina ao mundo quanto vale um dia
De trabalho, de luta, de harmonia,
No sinergismo de um feliz casal!...

Ernane Gusmão


Brasil - 1 Fevereiro 2014
FALAR DE AMOR
(Eugénio de Sá)


Não sei se falar de amor
Possa ser aliviado
Se cantado com ardor
Correndo as veias de um fado
C’o uma guitarra a trinar
Bem o ouvimos chorar

Camões a ele se referiu
Por ele morreu Dona Inês
E a dor que a Tristão cingiu
Fê-lo morrer outra vez
Que d'amor também morremos
Se de nós tudo lhe dermos
  
Porque amor é tudo, é nada
É em nós um alvoroço
Que nos toma pla calada
E nos aperta o pescoço
Como cordame de proa
Que ora folga, ora magoa

Amor é fogo sem fumo
Que arde em nós sem nos queimar
E nos deixa sem um rumo
Remexe sem molestar
Ave que voa na bruma
Rasando as ondas e a espuma

É bem que se expõe à lua
Buscando as sombras e a luz
Em alternâncias divinas
Benditas pelo Bom Jesus
Qu’isto de amar vem de Deus
Por isso Ele nos fez tão Seus.

O BRONZE DA HISTÓRIA - Eugénio de Sá



 
O bronze da história
Eugénio de Sá



Tem nobreza o verdete acumulado
Em mil anos de história portuguesa
Mas nada tem de nobre ver vergado
O justo orgulho às marcas da vileza

Pátria de sacrifícios, que mais querem
Que dês a esta terra bem amada?
- Se o sangue já lhe deste ao te pedirem
Qu’em Alcácer e La Lys fosses pisada

Que mais hão-de pedir-te, Portugal
Se já te enfileiraram na pobreza
 Se já estás entre as vítimas do mal?

Mas vais erguer-te pátria, que é letal
Essa indómita força, essa firmeza
Que te fazem pôr fim ao surreal!



A Portugal,
nos tristes dias que correm

26 de Janeiro de 2013



QUE PENA ME DÁS LISBOA - Eugénio de Sá

Que pena me dás, Lisboa
Eugénio de Sá

Tristinha esta Lisboa que hoje vejo
fruto de toda a crise que se arrasta
e cuja sorte se tornou madrasta
pintando a tons cinzentos o meu Tejo

É ponto de passagem, não de estar
a teia pombalina que é mais rasa
onde outrora nos víamos em casa
hoje erramos por ela com pesar

E pelas gloriosas avenidas
em que os olhos paravam deleitados
quedamo-nos agora de pasmados
à vista das pobrezas exibidas

Já nem me atrevo a subir ao Chiado
por não querer mais desgostos no olhar
e fico no Rossio a relembrar
um tempo de Lisboa, requintado

sábado, 12 de janeiro de 2013

PORTUGAL - Um balanço da situação político/financeira/social - Resumo do Relatório do FMI com sugestões para a estabilização económico/financeira do país




Portugal




11 de Janeiro de 2013





Longe vai o tempo em que os nossos irmãos brasileiros punham um olhar longínquo, como se quisessem enxergar um horizonte impossível - ao ouvirem falar das mordonomias de que gozavam os cidadãos europeus, mesmo os menos afortunados, os do sul, entre os quais os portugueses.

Viviam-se então os anos finais da década de oitenta. Depois, começou a falar-se numa crise que, ao invés de se mostrar passível de inversão, veio a revelar-se persistente, sempre em crescendo, até que só mesmo uma intervenção do FMI em operação conjugada com o Banco Central Europeu permitiu salvar o sistema financeiro do país de uma iminente banca rota. Estava-se então em Maio de 2011.

É verdade que as regras impostas pela denominada Troika, como condição para que se realizasse o empréstimo gradual de cerca de 78 mil milhões de euros, conduziram os portugueses a sacrifícios até então impensáveis, mas tudo o que se passou até agora parece ser uma brincadeira de crianças em comparação com o que se vislumbra vir a acontecer a curto prazo. Na realidade, perante o relatório encomendado recentemente pelo governo português a consultores do FMI, o chamado estado social conquistado com sangue suor e lágrimas de tantos filhos desta nação após a chamada revolução dos cravos, emergente de uma ditadura de quase cinquenta anos, parece estar irremediavelmente condenado à extinção.

Entretanto, o país vive já em profunda recessão, mercê do elevado e sempre crescente desemprego que se regista, com o seu rosário de dramas e carências, enquanto que o investimento está praticamente reduzido a zero, não obstante a banca ter sido reequilibrada em matéria de solvência. Salva-se a balança de pagamentos, que vem registando crescentes acréscimos na exportação, embora ameace agora estagnar ou até regredir, mas que continuará ainda equilibrada mercê de uma significativa redução das importações.
Os tradicionais mercados europeus, mercê da actual debilidade das suas economias, compram-nos menos, mas outros destinos se têm entretanto aberto aos nossos produtos. Valha-nos isso.

Politicamente, fala-se muito e realiza-se pouco. Isto é próprio dos latinos, está-nos no sangue. Mas é lamentável assistir ao nível a que a dialéctica parlamentar baixou, tal como a mediatização promovida pelas várias televisões, onde se perde um tempo precioso em mesas redondas, quadradas e de outros formatos geométricos, que pouco ou nada adiantam em termos de ideias aproveitáveis para uma mais eficaz governação que minore os sacrifícios impostos ao povo, ao invés de os aumentar, como se vê no presente Orçamento de Estado para 2013, ainda em fase de análise constitucional, por dúvidas do Presidente da República relativamente a matérias que mexem com impostos acrescidos e a retirada (ainda que temporária) de benefícios e direitos adquiridos a milhões de cidadãos, entre os quais os aposentados, sempre os mais atingidos porque indefesos.

Voltando ao tal Relatório da autoria do FMI sobre a sustentabilidade do estado português, embora tratando-se de um documento de uma frieza caracteristica e marcadamente técnica, não tenho quaisquer dúvidas sobre a intencionalidade da sua vinda a público; a de lançar a sua discussão na sociedade no mais curto espaço de tempo possivel. 
Na realidade, face ao estimável PIB nacional, e tendo em conta as condições actuais do país e da Europa, em que se integra, as nossas finanças só terão sustentabilidade se conseguirem poupar mais quatro mil milhões de euros anuais. É isto que nos é dito e redito nos dias que correm. E as soluções são bem poucas.

Não quero - nem saberia - comentar sobre esta reafirmada realidade. Deixo-vos, isso sim, o resumo do tal Relatório da autoria da consultoria do FMI para vejam vocês mesmos aquilo que espera este país que, embora pequeno, tem gente única, sensível, bondosa, mas que sempre soube ser também estóica  valente e determinada, quando as circunstâncias o impõem.

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Percentagem de desempregados na população activa: cerca de 17% (muito perto de um milhão de cidadãos. Sabe-se que cada desempregado afecta, em média, mais duas pessoas do seu agregado familiar).

Nos jovens à espera do primeiro emprego: cerca de 40% de desempregados.
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Eugénio de Sá


Resumo do 
RELATÓRIO DO FMI PARA PORTUGAL 2013


FMI recomenda cortar salários, subsídios e funcionários públicos

Fundo sugere medidas ainda mais austeras para cortar 4 mil milhões de euros na despesa

2013-01-09

O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomenda ao Governo português cortes mais profundos em várias áreas para alcançar os cortes de 4 mil milhões de euros na despesa, necessários a partir de 2014. Cortar salários na função pública, pensões, subsídios de desemprego e outros apoios sociais, bem como o número de funcionários públicos, são algumas das sugestões do organismo.
De acordo com o FMI, o corte dos salários dos funcionários públicos, incluindo os mais baixos, e das pensões (bem como o aumento da idade da reforma) são as duas vias centrais para a redução do peso do Estado.

O FMI refere «por exemplo», que um corte de salários entre 3 e 7% pouparia ao Estado entre 325 e 760 milhões de euros. Os cortes, diz, devem ser permanentes, porque o «prémio» por trabalhar na função pública em Portugal está, mesmo após as medidas de austeridade, «entre os mais altos da Europa».
Na função pública, o FMI sugere ainda cortes nos complementos e suplementos (uma redução de 20 a 30% pouparia até 300 milhões), o descongelamento dos incentivos ao mérito, e um aumento do horário semanal para 40 horas, acompanhado de novo corte na compensação de horas extraordinárias para 15%.

Para reduzir o número de funcionários, o ideal seriam as recisões amigáveis mas, como o Governo «não se pode dar ao luxo de pagar rescisões caras», essas devem ser adiadas para depois da crise. O FMI propõe alternativas para cortar 70 a 140 mil pessoas: segundo os seus cálculos, um corte de 10 a 20% no pessoal pouparia 794 a 2,7 mil milhões de euros. Uma das sugestões é que, após dois anos na mobilidade especial, os funcionários sejam despedidos.
Num relatório, divulgado esta quarta-feira pelo «Jornal de Negócios» mas com data de Dezembro, o Fundo sugere ainda o aumento das taxas moderadoras, e a dispensa de 50 mil professores. Medidas que «poderão aumentar a eficiência do Estado, reduzindo a sua dimensão de forma a suportar a saída da crise». O FMI diz que pode ser conseguida uma redução de 800 milhões já este ano.

Entre as recomendações conta-se a redução de funcionários e salários na Educação, Saúde e forças de segurança, e cortes no Estado Social, que considera iníquo, especialmente para os mais jovens.

O documento, que está já nas mãos do Governo português, considera que algumas classes profissionais como os polícias, militares, professores, médicos e juízes têm «demasiadas regalias» e «continuam a ser um grupo privilegiado na sociedade». Sobre os médicos, diz que têm salários excessivamente elevados (principalmente devido ao pagamento de horas extraordinárias) e dos magistrados, que beneficiam de um regime especial que aumenta as pensões dos juízes em linha com os salários.

A dispensa de 50 mil professores, que permitiria uma poupança até 710 milhões, e um aumento das propinas no ensino superior são outras opções apontadas no relatório.

No que toca ao sistema de protecção social, diz ser «demasiado dispendioso, injusto e especialmente para os mais jovens», defendendo que o «subsídio de desemprego continua demasiado longo e elevado».

Uma das recomendações passa por cortar o subsídio para o valor do subsídio social (419,22 euros) ao fim de 10 meses de desemprego. A medida pouparia até 600 milhões.

Para o FMI, o teto máximo de 1.045 euros para o subsídio desincentiva a procura de emprego. O valor, assim como a duração, tem de ser cortado.
Acabar com o subsídio de morte, racionalizar subsídios de paternidade e retirar abono de família a universitários são outras sugestões 

FMI
Soluções para o empobrecimento dos povos