sábado, 26 de outubro de 2013

EU, PREDADOR DE MIM de Eugénio de Sá

Eu, predador de mim
Eugénio de Sá

Que estupidez, eu sei, mas que fazer
Se entre tantos registos disponíveis
Eu dou comigo sempre a escolher
Os mais infandos, tristes, indizíveis.

É masoquismo pleno, não o nego
Esta eleição da dor, incontornável
Malquista tentação, pareço cego
À razão que me chama irrazoável.

Qual vampírico ser, eu logro a escuridão
Sanguífica e cruel, a mente traz-me estórias
E então me torno o predador de mim!

Em pavor me retorço, em pasmo e aflição
Exposto aos hologramas das memórias
Até que o sono pare aquele festim.


“ A vocação masoquista da natureza consentiu
    que o vírus humano a invadisse e nela sobrevivesse ”
                                                                    Casimiro de Brito

Sintra - Portugal - Outubro 2013 

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